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Of Black Flags (In a Scarlet Morning I saw a Multitude)

by Trieb

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Of Black Flags surgiu de uma música anterior da Ankhalimah, Red is The Common Flag. Ela é fruto, ao menos no que toca à letra, de um processo de reflexão mais aprofundada sobre o que é importante em uma comunidade política. Se é bem verdade que “in every demand there is a reaction against injustice and the unjust” e por isso não podemos condenar “revolution as a concept”, ao mesmo tempo não podemos acreditar que seja possível a realização plena de qualquer conceito de bem comum sem respeito às ideias de autoridade e de ordem e às suas representações políticas. No mundo todo, hoje em dia, discursos populistas de direita e de esquerda atacam direta e indiretamente esses conceitos. Esta música surgiu da minha indignação contra estes discursos.

Como sou formado em Direito, meu primeiro contato com os autores chamados contra-revolucionários foi com Carl Schmitt, em seu Teologia Política (1922). Lá ele lista três autores desta categoria, especificamente Joseph de Maistre, Louis de Bonald e Donoso Cortéz.
Foi Joseph de Maistre quem me atraiu mais, por conta de sua influência na obra de Baudelaire. Li algumas coisas dele e sobre ele (lembro especialmente do ensaio do Isaiah Berlin), mas o que mais me chocou foi a proximidade do aparato estético de seu discurso com alguns discursos no Heavy Metal. Fiquei tão impressionado que o trecho dele que está na música foi parar também na introdução da minha dissertação de mestrado.
Antes de De Maistre e de Schmitt, no entanto, e como um moderador bastante saudável desse reacionarismo todo, encontrei G. K. Chesterton, cuja obra mudou minha vida. Seus trechos aparecem em músicas minhas (como em Devil Blows The Desert Winds e, especialmente, The Ballad of the White Horse, toda composta de trechos do poema homônimo de Chesterton) e de outras bandas (como Revelations, do Iron Maiden), mas é o refrão de Of Black Flags que recupera essas conexões todas, entre Chesterton, Iron Maiden e Trieb.
O Yeats vem com uma estrofe inteira da letra que estava faltando, como uma adição extra. Eu sempre gostei dele, mas esse amargor que a destruição causada pela Primeira Guerra Europeia na civilização europeia como um todo gera, um amargor que levou à Segunda Guerra e que Freud examina muito bem em seu O Mal-Estar na Civilização, e que nunca passou, concordava perfeitamente com a minha intenção de mostrar a decadência da ordem política da Revolução Francesa à Revolução de Outubro à ascensão do nazismo.

A música traz alguns samplers de discursos famosos, sejam discursos realmente gravados, sejam interpretados. Temos samplers de Lenin, Churchill e Hitler e uma fala interpretada de Robespierre. Nos refrãos temos os hinos da França, União Soviética e Alemanha e, no fim, um mashup desses hinos.
Na parte propriamente musical, além da intro incrível que vincula a música a Valentine, a última música do primeiro CD da Ankhalimah, temos um Power Metal que flerta bastante com o Metal Extremo, e um espaço de encontro no Thrash Metal do Megadeth e do Destruction. Além disso, temos os guturais do Henrique Valle, antigo membro da banda e colaborador constante, e meus. Estava pensando em Anaal Nathrakh e em Mysteria do Edguy quando fiz o breakdown logo antes do solo, que vem para coroar a música.
No refrão ainda temos os coros, com uma segunda voz principal minha bem grave, que casa bem com a voz cheia de drive mais aguda que é a voz principal de fato.

Como capa, temos a obra A Coroação de Napoleão, do pintor francês Jacques-Louis David, tão importante na composição da imagética que povoa nossas mentes quando falamos da Revolução Francesa. É a partir da perspectiva de David que entendi aqui a Revolução e Napoleão, com o corso sendo a conclusão desse processo que tem, é claro, uma história muito mais complexa, fragmentária e cheia de caminhos não percorridos. Admirado por Hegel e Goethe, Napoleão representa bem o conflito da modernidade com as noções políticas de autoridade e de ordem que foram questionadas pela Revolução. Demandando a presença do Papa e usurpando dele o poder de coroá-lo, Napoleão efetivamente é, nesta imagem, o espírito de seu mundo.

No fim da música, temos o famoso discurso de Winston Churchill que serve de introdução há anos nos shows do Iron Maiden para a música Aces High. Este discurso, que entrou para a história com o nome de We shall fight on the beaches, foi proferido em 4 de junho de 1940, na House of Commons do Parlamento Britânico, para elevar o moral britânico no combate aos nazistas. Sua parte mais célebre, que foi integralmente juntada ao fim da música, diz:

We shall go on to the end. We shall fight in France, we shall fight on the seas and oceans, we shall fight with growing confidence and growing strength in the air, we shall defend our island, whatever the cost may be. We shall fight on the beaches, we shall fight on the landing grounds, we shall fight in the fields and in the streets, we shall fight in the hills; we shall never surrender [...]

Churchill, como todo ser humano, era cheio de falhas (graves). Mas sua fibra moral diante do mal encarnado nazista, sua confiança no valor do sistema político britânico e sua prudência, que não se confundia com covardia, continuam sendo um farol iluminando o caminho para as lideranças contemporâneas.

Of Black Flags dialoga de forma muito ampla com a discografia da Trieb, musical e poeticamente. Musicalmente, há o vínculo com a Ankhalimah, banda cujos membros participaram todos ativamente da gravação desse CD, além da ponte com o passado da própria Trieb, com a participação do Henrique (que também foi da Ankhalimah). Também temos, em seus momentos mais relacionados ao Thrash Metal, flertes com o Deserto, um álbum que traz diversas músicas com pegada nesse estilo, especialmente Sodom e Queen in Yellow.
Poeticamente, os interesses aqui são os mesmos dos constantes em In Stahlgewittern, The Ballad of the White Horse e Devil Blows The Desert Winds, quais sejam: revelar a hybris que constitui a modernidade política e mostrar como a constituição de uma política do bem comum pode ser encontrada nas altermodernidades aberrantes de certos literatos, em terrenos que, muitas vezes, são deturpados em fantasias de uma direita tosca, mas que, muitas vezes, escapam a qualquer apropriação da espécie, iluminando para nós todo um novo mundo político.

Of Black Flags é uma música sobre o mundo e sobre o Brasil de hoje. Governados por homens incompetentes, sem fibra moral e sem a sagacidade que talvez pudesse compensar sua falta, estamos há muito tempo além do limiar no qual o processo de formação de nossos governos, os nossos governos e a capacidade de vida digna do homem se encontravam. As soluções que nos são ofertadas ora não têm conseguido chamar a atenção para os problemas reais existentes, ora têm se furtado a identificá-los, enquanto os melhores diagnósticos de nossas doenças são chamados de reacionários. Se, por certo, é necessário que façamos a crítica desses autores, esta crítica deve ser tão profunda quanto suas análises e criteriosa o suficiente para que separemos o que deles pode ser aproveitado para a manutenção dos avanços conquistados e o que deve ser de fato marginalizado, mas sempre tentando entender as relações que se estabelecem entre esses aspectos.

lyrics

There where the dreams and the days meet
There where voices silenced by the guillotine
Tell the tale of a proud race and its decay
There lies the true revolution

In the minds and the tongues
Of the feeble-hearted and minded enraged
A flesh slaying pen
Carves a killing desire for the man

Brothers, red is the common flag, they say
Red is the colour of the extermination of man

Things fall apart; the centre cannot hold
Mere anarchy is loosed upon the world
Turning and turning in the widening gyre
The Second Coming is at hand

La terre, un autel, imbibée de sang
Où tout ce qui vit
Doit être immolé
Sans fin jusqu'à l'extinction

Jusqu'à l'extinction du mal
Jusqu'à la mort de la mort

Then what you looked and admired
About the man who rose against
Sacred king and priest
And people all
Is nothing but satanic pride
In a nice attire

I do not condemn revolution as a concept
Because in every demand
There's a reaction against injustice
And the unjust

Where the eternal law is disdained
By jurists and the ones sustained
By the creed of legality
There lies the
Revolution

And my flag, it is black, for I won't sever heads
I'll burn heretics

Then what you looked and admired
About the man who rose against
Sacred king and priest
And people all
Is nothing but satanic pride
In a nice attire

Then what you looked and admired
About the man who rose against
Sacred king and priest
And people all
Is nothing but satanic pride
In a nice attire

credits

released May 18, 2022
G. A. Klausner - Music and Lyrics
Yuichi Inumaru - Music
Arthur Antonio Fernandes - Music
Henrique Valle - Guest Vocals

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