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Devil Blows the Desert Winds

by Trieb

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1.
We came from the sand We came from the mud Out of the prison cell Back to what’s life A chance to ride free again Through my own land So I could redeem my past I am not a saint I am no soldier, but I can fight a war To defend my right to be What I was born to be Not white, not black, no indian am I I am a man And the world is beneath my thumb So we rode like hellhounds Through wastelands we’ve sniffed What’s beyond tyranny The emptiness that’s free But it ain’t no frontier calling, It’s Armaggedon Words spread from a sage That brought freedom to men Bearing the Savior’s cross and the crown Of the undying king Saints and sinners joining The last bulwark against hell And the infidels, we’ll burn on the stake If our lands they come to take I ride, so we can raise the cross I ride, so we can raise the crown I ride, so we can raise the people To a place that’s their own Rain pours over the sand We shall celebrate Our king is coming And this city will be His throne Haven’t you seen the fires that lit the night? Haven’t you seen the smokes that cover daylight? San Sebastian, slayer of the Moors, Fight our fears away, Virgin Mary, mother of God, Wash our tears away I ride, so we can raise the cross I ride, so we can raise the crown I ride, so we can raise the people To a place that’s their own San Sebastian, slayer of the Moors, Fight our fears away, Virgin Mary, mother of God, Wipe our tears away I ride, so we can raise the cross I ride, so we can raise the crown I ride, so we can raise the people To a place that’s their own
2.
Fernando Pessoa, Mensagem: Benedictus Dominus Deus noster qui dedit nobis signum bellum sine bello. Possessio maris. Pax in excelsis. Valete, Frates. Euclides da Cunha, Os Sertões: Do céu veio uma luz Que Jesus Cristo mandou Santo Antônio Aparecido Dos castigos nos livrou! Quem ouvir e não aprender Quem souber e não ensinar No dia do Juízo A sua alma penara! Fernando Pessoa, Mensagem: Todo começo é involuntário. Deus é o agente. O herói a si assiste, vário E inconsciente. À espada em tuas mãos achada Teu olhar desce. «Que farei eu com esta espada?» Ergueste-a, e fez-se Euclides da Cunha, Os Sertões: E surgia na Bahia o anacoreta sombrio, cabelos crescidos até aos ombros, barba inculta e longa; face escaveirada; olhar fulgurante; monstruoso, dentro de um hábito azul de brim americano; abordoado ao clássico bastão em que se apóia o passo tardo dos peregrinos... Andava sem rumo certo, de um pouso para outro, indiferente à vida e aos perigos, alimentando-se mal e ocasionalmente, dormindo ao relento à beira dos caminhos, numa penitência demorada e rude... Tornou-se logo alguma coisa de fantástico ou mal-assombrado para aquelas gentes simples. Remodelava-o à sua imagem. Criava-o. Ampliava-lhe, desmesuradamente, a vida, lançando-lhe dentro os erros de 2 mil anos. Precisava de alguém que lhe traduzisse a idealização indefinida, e a guiasse nas trilhas misteriosas para os céus... O evangelizador surgiu, monstruoso, mas autômato. Aquele dominador foi um títere. Agiu passivo, como uma sombra. Mas esta condensava o obscurantismo de três raças. E cresceu tanto que se projetou na História.. O asceta despontava, inteiriço, da rudeza disciplinar de quinze anos de penitência. Requintara nessa aprendizagem de martírios, que tanto preconizam os velhos luminares da Igreja. Vinha do tirocínio brutal da fome, da sede, das fadigas, das angústias recalcadas e das misérias fundas. Não tinha dores desconhecidas. A epiderme seca rugava-se-lhe como uma couraça amolgada e rota sobre a carne morta. Anestesiara-a com a própria dor; macerara-a e sarjara-a de cilícios mais duros que os buréis de esparto; trouxera-a, de rojo, pelas pedras dos caminhos; esturrara-a nos rescaldos das secas; inteiriçara-a nos relentos frios; adormecera-a em transitórios repousos, nos leitos dilacerantes das caatingas... Abeirara muitas vezes a morte nos jejuns prolongados, com requinte de ascetismo que surpreenderia Tertuliano, esse sombrio propagandista da eliminação lenta da matéria, "descarregando-se do seu sangue, fardo pesado e importuno da alma impaciente por fugir..." Como os antigos, o predestinado atingia a terra pela vontade divina. Fora o próprio Cristo que pressagiara a sua vinda quando "na hora nona, descançando no monte das Oliveiras um dos seus apóstolos perguntou: Senhor! para o fim desta edade que signaes vós deixaes ? "Elle respondeu: muitos signaes na Lua, no Sol e nas Estrellas. Hade apparecer um Anjo mandado por meu pae terno, prégando sermões pelas portas, fazendo povoações nos desertos, fazendo egrejas e capellinhas e dando seus conselhos..." "Em verdade vos digo, quando as nações brigam com as nações, o Brazil com o Brazil, a Inglaterra com a Inglaterra, a Prussia com a Prussia, das ondas do mar D. Sebastião sahirá com todo o seu exercito. "Desde o princípio do mundo que encantou com todo seu exercito e o restituio em guerra. "E quando encantou-se afincou a espada na pedra, ella foi até os copos e elle disse: Adeus mundo! "Até mil e tantos a dois mil não chegarás ! "Neste dia quando sahir com o seu exercito tira a todos no fio da espada deste papel da Republica. O fim desta guerra se acabará na Santa Casa de Roma e o sangue hade ir até á junta grossa . . . " Fernando Pessoa, Mensagem: Louco, sim, louco, porque quis grandeza Qual a Sorte a não dá. Não coube em mim minha certeza; Por isso onde o areal está Ficou meu ser que houve, não o que há. Minha loucura, outros que me a tomem Com o que nela ia. Sem a loucura que é o homem Mais que a besta sadia, Cadáver adiado que procria? Firme em minha tristeza, tal vivi. Cumpri contra o Destino o meu dever. Inutilmente? Não, porque o cumpri. O homem e a hora são um só Quando Deus faz e a história é feita. O mais é carne, cujo pó A terra espreita. Euclides da Cunha, Os Sertões: O jagunço destemeroso, o tabaréu ingênuo e o caipira simplório serão em breve tipos relegados às tradições evanescentes, ou extintas. Primeiros efeitos de variados cruzamentos, destinavam-se talvez à formação dos princípios imediatos de uma grande raça. A civilização avançará nos sertões impelida por essa implacável "força motriz da História" que Gumplowicz, maior do que Hobbes, lobrigou, num lance genial, no esmagamento inevitável das raças fracas pelas raças fortes. Concluídas as pesquisas nos arredores, e recolhidas as armas e munições de guerra, os jagunços reuniram os cadáveres que jaziam esparsos em vários pontos. Decapitaram-nos. Queimaram os corpos. Alinharam depois, nas duas bordas da estrada, as cabeças, regularmente espaçadas, fronteando-se, faces volvidas para o caminho. Por cima, nos arbustos marginais mais altos, dependuraram os restos de fardas, calças e dólmãs multicores, selins, cinturões, quepes de listras rubras, capotes, mantas, cantis e mochilas... A catinga, mirrada e nua, apareceu repentinamente desabrochando numa florescência extravagantemente colorida no vermelho forte das divisas, no azul desmaiado dos dólmãs e nos brilhos vivos das chapas dos talins e estribos oscilantes . . . Um pormenor doloroso completou esta encenação cruel: a uma banda avultava, empalado, erguido num galho seco, de angico, o corpo do coronel Tamarindo. Era assombroso.. . Como um manequim terrivelmente lúgubre, o cadáver desaprumado, braços e pernas pendidos, oscilando à feição do vento no galho flexível e vergado, aparecia nos ermos feito uma visão demoníaca. Ali permaneceu longo tempo... Quando, três meses mais tarde, novos expedicionários seguiam para Canudos, depararam ainda o mesmo cenário: renques de caveiras branqueando as orlas do caminho, rodeadas de velhos trapos, esgarçados nos ramos dos arbustos e, de uma banda — mudo protagonista de um drama formidável — o espectro do velho comandante. Fernando Pessoa, Mensagem: Quando virás, ó Encoberto, Sonho das eras português, Tornar-me mais que o sopro incerto De um grande anseio que Deus fez Grécia, Roma, Cristandade, Europa — os quatro se vão Para onde vai toda idade. Quem vem viver a verdade Que morreu D. Sebastião? São ilhas afortunadas São terras sem ter lugar, Onde o Rei mora esperando. Mas, se vamos despertando Cala a voz. e há só o mar O sertanejo é, antes de tudo, um forte. We came from the sand We came from the mud Out of the prison cell Back to what’s life A chance to ride free again Through my own land So I could redeem my past I am not a saint I am no soldier, but I can fight a war To defend my right to be What I was born to be Not white, not black, no indian am I I am a man And the world is beneath my thumb So we rode like hellhounds Through wastelands we’ve sniffed What’s beyond tyranny The emptiness that’s free But it ain’t no frontier calling, It’s Armaggedon Words spread from a sage That brought freedom to men Bearing the Savior’s cross and the crown Of the undying king Saints and sinners joining The last bulwark against hell And the infidels, we’ll burn on the stake If our lands they come to take I ride, so we can raise the cross I ride, so we can raise the crown I ride, so we can raise the people To a place that’s their own Rain pours over the sand We shall celebrate Our king is coming And this city will be His throne Haven’t you seen the fires that lit the night? Haven’t you seen the smokes that cover daylight? San Sebastian, slayer of the Moors, Fight our fears away, Virgin Mary, mother of God, Wash our tears away I ride, so we can raise the cross I ride, so we can raise the crown I ride, so we can raise the people To a place that’s their own San Sebastian, slayer of the Moors, Fight our fears away, Virgin Mary, mother of God, Wipe our tears away I ride, so we can raise the cross I ride, so we can raise the crown I ride, so we can raise the people To a place that’s their own I ride against evil, I ride in a war against all wars I ride, and riding I shall die Freedom is a wild horse Four knights come, raising the dust Our hypocrisies shine like silver stars And it will all turn to ashes and rust When this carnival of sin is over Ride over this barren grounds, only one ‘till you see Sodom flashing with lust Ride, ‘cause the desert is your only home Ride, only one, ‘cause your soul is filled with dust Euclides da Cunha, Os Sertões: " No tempo da monarquia deixei-me prender, porque reconhecia o governo, hoje não, porque não reconheço a República." A natureza toda protege o sertanejo. Talha-o como Anteu, indomável. É um titã bronzeado fazendo vacilar a marcha dos exércitos. É que estava em jogo, em Canudos, a sorte da República Malgrado os defeitos do confronto, Canudos era a nossa Vendéia. Fernando Pessoa, Mensagem: Pai, foste cavaleiro. Hoje a vigília é nossa. Dá-nos o exemplo inteiro E a tua inteira força! Dá, contra a hora em que, errada, Novos infiéis vençam, A bênção como espada, A espada como benção Euclides da Cunha, Os Sertões: E no último dia de sua resistência inconcebível, como bem poucas idênticas na história, os seus últimos defensores, três ou quatro anônimos, três ou quatro magros titãs famintos e andrajosos, iriam queimar os últimos cartuchos em cima de 6 mil homens! Haven’t you seen the fires that lit the night? Haven’t you seen the smokes that cover daylight? San Sebastian, slayer of the Moors, Fight our fears away, Virgin Mary, mother of God, Wash our tears away I ride, so we can raise the cross I ride, so we can raise the crown I ride, so we can raise the people To a place that’s their own Euclides da Cunha, Os Sertões: A luta atingia febrilmente o desenlace da batalha decisiva que a remataria. Mas aquele paroxismo estupendo acobardava os vitoriosos. O jagunço despertava, como sempre, de improviso, surpreendedoramente, teatralmente e gloriosamente, renteando o passo aos agressores. Por toda a banda realizavam-se idênticos arremessos e idênticos recuos. O último estortegar dos vencidos quebrava a musculatura de ferro das brigadas. Os sertanejos invertiam toda a psicologia da guerra: enrijavam-nos os reveses, robustecia-os a fome, empedernia-os a derrota. Ademais entalhava-se o cerne de uma nacionalidade. Atacava-se a fundo a rocha viva da nossa raça. Vinha de molde a dinamite. Era uma consagração Cessaram as fuzilarias; e desceu sobre todas as linhas um grande silencio de expectativa ansiosa... Fernando Pessoa, Mensagem: Deu-me Deus o seu gládio, porque eu faça A sua santa guerra. Sagrou-me seu em honra e em desgraça, Às horas em que um frio vento passa Por sobre a fria terra. Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me A fronte com o olhar; E esta febre de Além, que me consome, E este querer grandeza são seu nome Dentro em mim a vibrar. E eu vou, e a luz do gládio erguido dá Em minha face calma. Cheio de Deus, não temo o que virá, Pois venha o que vier, nunca será Maior do que a minha alma. Euclides da Cunha, Os Sertões: Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados. Esta página de nossa história, imaginamo-la sempre profundamente emocionante e trágica; mas cerramo-la vacilante e sem brilhos. Fernando Pessoa, Mensagem: Nem rei nem lei, nem paz nem guerra, Define com perfil e ser Este fulgor baço da terra Que é o Brasil a entristecer — Brilho sem luz e sem arder, Como o que o fogo-fátuo encerra. Ninguém sabe que coisa quer. Ninguém conhece que alma tem, Nem o que é mal nem o que é bem. (Que ânsia distante perto chora?) Tudo é incerto e derradeiro. Tudo é disperso, nada é inteiro. Ó Brasil, hoje és nevoeiro... É a Hora!

about

"Devil blows the Desert Winds" has a theme that reflects the anguish and hope of our people through the ages, in the case of a punctual fact, that, at the same time that is punctual, repeats itself every day, never in the magnitude of the story in this song told, however. Our work on the Canudos' War in this epic of about twenty-six minutes, we had the opportunity to reflect on the oppression that the infamous government of this glorious country imposes on our people. Using excerpts from the classic "Os Sertões", by Euclides da Cunha, and "Mensagem", by Fernando Pessoa, we might experience the fortress that the brave last four defenders of Canudos drew of their faith, reflected in the Sebastianism present in Antonio Conselheiro's preaching, to fight a system they considered unfair and malevolent. We hope that this song is for you what was for us: an end, and a beginning.
Who wants to know more about Canudos, there is an excellent film, starring José Wilker (which can be found here: www.youtube.com/watch?v=P4OYhj7Io0E). For those who want to go further deep in the subject, here's the book by Euclides da Cunha (which is the Great Book on the subject - as well as being one of the classics of Brazilian literature) that has fallen in public domain: www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000091.pdf
Who want to learn a little more about Sebastianism (and on our Aragorn, who will return one day from the desert): pt.wikipedia.org/wiki/Sebastianismo
And on the book of Fernando Pessoa: pt.wikipedia.org/wiki/Mensagem_(livro)

credits

released November 3, 2017

Fernando Gameleira - Bass
G. A. Klausner - Vocals
Tadeu Oliveira - Guitars
Henrique Cordeiro - Guitars/Growls

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