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Devil Blows the Desert Winds (Sebastianist Version)

from Devil Blows the Desert Winds by Trieb

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lyrics

Fernando Pessoa, Mensagem: Benedictus Dominus
Deus noster qui dedit nobis signum
bellum sine bello.
Possessio maris.
Pax in excelsis.
Valete, Frates.

Euclides da Cunha, Os Sertões: Do céu veio uma luz
Que Jesus Cristo mandou
Santo Antônio Aparecido
Dos castigos nos livrou!
Quem ouvir e não aprender
Quem souber e não ensinar
No dia do Juízo
A sua alma penara!

Fernando Pessoa, Mensagem: Todo começo é involuntário.
Deus é o agente.
O herói a si assiste, vário
E inconsciente.
À espada em tuas mãos achada
Teu olhar desce.
«Que farei eu com esta espada?»
Ergueste-a, e fez-se

Euclides da Cunha, Os Sertões: E surgia na Bahia o anacoreta sombrio, cabelos crescidos até aos ombros, barba inculta e longa; face escaveirada; olhar fulgurante; monstruoso, dentro de um hábito azul de brim americano; abordoado ao clássico bastão em que se apóia o passo tardo dos peregrinos... Andava sem rumo certo, de um pouso para outro, indiferente à vida e aos perigos, alimentando-se mal e ocasionalmente, dormindo ao relento à beira dos caminhos, numa penitência demorada e rude... Tornou-se logo alguma coisa de fantástico ou mal-assombrado para aquelas gentes simples. Remodelava-o à sua imagem. Criava-o. Ampliava-lhe, desmesuradamente, a vida, lançando-lhe dentro os erros de 2 mil anos. Precisava de alguém que lhe traduzisse a idealização indefinida, e a guiasse nas trilhas misteriosas para os céus... O evangelizador surgiu, monstruoso, mas autômato. Aquele dominador foi um títere. Agiu passivo, como uma sombra. Mas esta condensava o obscurantismo de três raças. E cresceu tanto que se projetou na História.. O asceta despontava, inteiriço, da rudeza disciplinar de quinze anos de penitência. Requintara nessa aprendizagem de martírios, que tanto preconizam os velhos luminares da Igreja. Vinha do tirocínio brutal da fome, da sede, das fadigas, das angústias recalcadas e das misérias fundas. Não tinha dores desconhecidas. A epiderme seca rugava-se-lhe como uma couraça amolgada e rota sobre a carne morta. Anestesiara-a com a própria dor; macerara-a e sarjara-a de cilícios mais duros que os buréis de esparto; trouxera-a, de rojo, pelas pedras dos caminhos; esturrara-a nos rescaldos das secas; inteiriçara-a nos relentos frios; adormecera-a em transitórios repousos, nos leitos dilacerantes das caatingas... Abeirara muitas vezes a morte nos jejuns prolongados, com requinte de ascetismo que surpreenderia Tertuliano, esse sombrio propagandista da eliminação lenta da matéria, "descarregando-se do seu sangue, fardo pesado e importuno da alma impaciente por fugir..."
Como os antigos, o predestinado atingia a terra pela vontade divina. Fora o próprio Cristo que pressagiara a sua vinda quando "na hora nona, descançando no monte das Oliveiras um dos seus apóstolos perguntou: Senhor! para o fim desta edade que signaes vós deixaes ? "Elle respondeu: muitos signaes na Lua, no Sol e nas Estrellas. Hade apparecer um Anjo mandado por meu pae terno, prégando sermões pelas portas, fazendo povoações nos desertos, fazendo egrejas e capellinhas e dando seus conselhos..." "Em verdade vos digo, quando as nações brigam com as nações, o Brazil com o Brazil, a Inglaterra com a Inglaterra, a Prussia com a Prussia, das ondas do mar D. Sebastião sahirá com todo o seu exercito. "Desde o princípio do mundo que encantou com todo seu exercito e o restituio em guerra. "E quando encantou-se afincou a espada na pedra, ella foi até os copos e elle disse: Adeus mundo! "Até mil e tantos a dois mil não chegarás ! "Neste dia quando sahir com o seu exercito tira a todos no fio da espada deste papel da Republica. O fim desta guerra se acabará na Santa Casa de Roma e o sangue hade ir até á junta grossa . . . "

Fernando Pessoa, Mensagem: Louco, sim, louco,
porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
Firme em minha tristeza, tal vivi.
Cumpri contra o Destino o meu dever.
Inutilmente? Não, porque o cumpri.
O homem e a hora são um só
Quando Deus faz e a história é feita.
O mais é carne, cujo pó
A terra espreita.

Euclides da Cunha, Os Sertões: O jagunço destemeroso, o tabaréu ingênuo e o caipira simplório serão em breve tipos relegados às tradições evanescentes, ou extintas. Primeiros efeitos de variados cruzamentos, destinavam-se talvez à formação dos princípios imediatos de uma grande raça. A civilização avançará nos sertões impelida por essa implacável "força motriz da História" que Gumplowicz, maior do que Hobbes, lobrigou, num lance genial, no esmagamento inevitável das raças fracas pelas raças fortes.
Concluídas as pesquisas nos arredores, e recolhidas as armas e munições de guerra, os jagunços reuniram os cadáveres que jaziam esparsos em vários pontos. Decapitaram-nos. Queimaram os corpos. Alinharam depois, nas duas bordas da estrada, as cabeças, regularmente espaçadas, fronteando-se, faces volvidas para o caminho. Por cima, nos arbustos marginais mais altos, dependuraram os restos de fardas, calças e dólmãs multicores, selins, cinturões, quepes de listras rubras, capotes, mantas, cantis e mochilas... A catinga, mirrada e nua, apareceu repentinamente desabrochando numa florescência extravagantemente colorida no vermelho forte das divisas, no azul desmaiado dos dólmãs e nos brilhos vivos das chapas dos talins e estribos oscilantes . . . Um pormenor doloroso completou esta encenação cruel: a uma banda avultava, empalado, erguido num galho seco, de angico, o corpo do coronel Tamarindo. Era assombroso.. . Como um manequim terrivelmente lúgubre, o cadáver desaprumado, braços e pernas pendidos, oscilando à feição do vento no galho flexível e vergado, aparecia nos ermos feito uma visão demoníaca. Ali permaneceu longo tempo... Quando, três meses mais tarde, novos expedicionários seguiam para Canudos, depararam ainda o mesmo cenário: renques de caveiras branqueando as orlas do caminho, rodeadas de velhos trapos, esgarçados nos ramos dos arbustos e, de uma banda — mudo protagonista de um drama formidável — o espectro do velho comandante.

Fernando Pessoa, Mensagem: Quando virás, ó Encoberto,
Sonho das eras português,
Tornar-me mais que o sopro incerto
De um grande anseio que Deus fez
Grécia, Roma, Cristandade, Europa — os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?
São ilhas afortunadas
São terras sem ter lugar,
Onde o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando
Cala a voz. e há só o mar
O sertanejo é, antes de tudo, um forte.

We came from the sand
We came from the mud
Out of the prison cell
Back to what’s life

A chance to ride free again
Through my own land
So I could redeem my past
I am not a saint

I am no soldier, but I can fight a war
To defend my right to be
What I was born to be

Not white, not black, no indian am I
I am a man
And the world is beneath my thumb

So we rode like hellhounds
Through wastelands we’ve sniffed
What’s beyond tyranny
The emptiness that’s free

But it ain’t no frontier calling,
It’s Armaggedon

Words spread from a sage
That brought freedom to men
Bearing the Savior’s cross and the crown
Of the undying king

Saints and sinners joining
The last bulwark against hell
And the infidels, we’ll burn on the stake
If our lands they come to take

I ride, so we can raise the cross
I ride, so we can raise the crown
I ride, so we can raise the people
To a place that’s their own

Rain pours over the sand
We shall celebrate
Our king is coming
And this city will be
His throne

Haven’t you seen the fires that lit the night?
Haven’t you seen the smokes that cover daylight?
San Sebastian, slayer of the Moors,
Fight our fears away,
Virgin Mary, mother of God,
Wash our tears away

I ride, so we can raise the cross
I ride, so we can raise the crown
I ride, so we can raise the people
To a place that’s their own

San Sebastian, slayer of the Moors,
Fight our fears away,
Virgin Mary, mother of God,
Wipe our tears away

I ride, so we can raise the cross
I ride, so we can raise the crown
I ride, so we can raise the people
To a place that’s their own

I ride against evil,
I ride in a war against all wars
I ride, and riding I shall die
Freedom is a wild horse

Four knights come,
raising the dust
Our hypocrisies shine like silver stars
And it will all turn to ashes and rust
When this carnival of sin is over
Ride over this barren grounds, only one
‘till you see Sodom flashing with lust
Ride, ‘cause the desert is your only home
Ride, only one, ‘cause your soul is filled with dust

Euclides da Cunha, Os Sertões: " No tempo da monarquia deixei-me prender, porque reconhecia o governo, hoje não, porque não reconheço a República." A natureza toda protege o sertanejo. Talha-o como Anteu, indomável. É um titã bronzeado fazendo vacilar a marcha dos exércitos. É que estava em jogo, em Canudos, a sorte da República Malgrado os defeitos do confronto, Canudos era a nossa Vendéia.

Fernando Pessoa, Mensagem: Pai, foste cavaleiro.
Hoje a vigília é nossa.
Dá-nos o exemplo inteiro
E a tua inteira força!
Dá, contra a hora em que, errada,
Novos infiéis vençam,
A bênção como espada,
A espada como benção

Euclides da Cunha, Os Sertões: E no último dia de sua resistência inconcebível, como bem poucas idênticas na história, os seus últimos defensores, três ou quatro anônimos, três ou quatro magros titãs famintos e andrajosos, iriam queimar os últimos cartuchos em cima de 6 mil homens!

Haven’t you seen the fires that lit the night?
Haven’t you seen the smokes that cover daylight?
San Sebastian, slayer of the Moors,
Fight our fears away,
Virgin Mary, mother of God,
Wash our tears away
I ride, so we can raise the cross
I ride, so we can raise the crown
I ride, so we can raise the people
To a place that’s their own

Euclides da Cunha, Os Sertões: A luta atingia febrilmente o desenlace da batalha decisiva que a remataria. Mas aquele paroxismo estupendo acobardava os vitoriosos. O jagunço despertava, como sempre, de improviso, surpreendedoramente, teatralmente e gloriosamente, renteando o passo aos agressores. Por toda a banda realizavam-se idênticos arremessos e idênticos recuos. O último estortegar dos vencidos quebrava a musculatura de ferro das brigadas. Os sertanejos invertiam toda a psicologia da guerra: enrijavam-nos os reveses, robustecia-os a fome, empedernia-os a derrota. Ademais entalhava-se o cerne de uma nacionalidade. Atacava-se a fundo a rocha viva da nossa raça. Vinha de molde a dinamite. Era uma consagração Cessaram as fuzilarias; e desceu sobre todas as linhas um grande silencio de expectativa ansiosa...

Fernando Pessoa, Mensagem: Deu-me Deus o seu gládio, porque eu faça
A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.
Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer grandeza são seu nome
Dentro em mim a vibrar.
E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma.

Euclides da Cunha, Os Sertões: Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados. Esta página de nossa história, imaginamo-la sempre profundamente emocionante e trágica; mas cerramo-la vacilante e sem brilhos.

Fernando Pessoa, Mensagem: Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é o Brasil a entristecer —
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Brasil, hoje és nevoeiro...
É a Hora!

credits

from Devil Blows the Desert Winds, released November 3, 2017
Tadeu Oliveira - Guitars
G. A. Klausner - Vocals
Henrique Cordeiro - Guitars
Fernando Gameleira - Bass

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